Cultuado no mundo dos quadrinhos, Watchmen é um clássico inquestionável. Considerado um dos maiores responsáveis pela revolução na forma e temática de contar histórias nas páginas das HQ’s, a trama política dos super-heróis corruptos e problemáticos foi um fenômeno sem comparações. Por isso, a saga passou décadas com o estigma de ser “impossível de adaptar”.
Ainda assim, após uma série de fatores, o filme acabou ganhando sinal verde e virou um dos longas mais polêmicos desse subgênero de super-heróis. Em meio a uma legião de fãs que amam o filme e outros que o odeiam, Watchmen é um daqueles projetos que marcaram época e deram o que falar. Com 15 anos completados no último mês, o filme ousado de Zack Snyder traz uma série de curiosidades de bastidores que você talvez não conheça. Por isso, o CinePOP separou dez delas. Confira!
Completamente diferente
Antes de parar nas mãos de Zack Snyder, Watchmen era considerado um projeto extremamente problemático por seu conteúdo pesado e distância do público infantil, que era o grande alvo dos heróis de quadrinhos na época. Porém, com o sucesso de filmes como Homem-Aranha (2002) e Batman Begins (2005), que traziam temáticas mais adultas em suas tramas, o estúdio decidiu que valeria a pena tentar adaptar a Graphic Novel. Para esse projeto ambicioso, eles chamaram um diretor com estilo próprio, sucesso no meio dos super-heróis e que estivesse em boa fase: Tim Burton. Ele chegou a conversar com o estúdio e disse que queria o Johnny Depp no papel do Comediante. Entretanto, ele acabou embarcando em dois projetos seguidos, Sweeney Todd e Alice, e abriu mão de Watchmen. Então, eles apelaram para um jovem diretor que estava abraçando o título de ‘visionário’, após encantar o mundo com outra adaptação de Graphic Novel: Zack Snyder, que surfava no sucesso de 300. E foi assim que ele parou nesse filme.
Fiel até demais
Uma das inovações que Zack Snyder trouxe para o projeto foi conversar com o time de artistas para basear todos os storyboards do filme nas artes originais da Graphic Novel. Para ele, ao fazer uma adaptação de quadrinhos, a arte é tão importante quanto o texto e a essência, sendo algo fundamental a ser respeitado. Por isso, ele deu para todos os atores uma cópia do roteiro e um encadernado da HQ para que eles compreendessem melhor os gestos e posicionamentos de cada cena inspirados na arte de Dave Gibbons. Mais do que isso, Zack pediu que os atores lessem Watchmen e levassem a cópia para as filmagens. Dessa forma, se eles quisessem mudar o roteiro para deixar mais fiel à trama dos quadrinhos, eles estavam liberados.
Não deixe de assistir:
Mais novos
Durante as reuniões com o time de casting, Zack definiu que a prioridade era encontrar atores mais jovens que seus personagens porque o filme traria uma série de flashbacks. Dessa forma, seria mais crível para o público – e mais barato para a produção – maquiá-los para parecerem mais velhos do que contratar atores mais jovens para interpretá-los nesses momentos do passado. É por isso que Carla Gugino interpreta a mãe de Malin Akerman mesmo sendo apenas 7 anos mais velha que a atriz na vida real. A grande exceção foi o Comediante. Nesse caso, Snyder preferiu alterar a data de nascimento do personagem, permitindo que ele existisse nas duas épocas com uma aparência similar.
Sem ler
Um dos destaques do filme é o ator Matthew Goode, que interpreta o Adrian Veidt. Na época dos testes, Zack Snyder ofereceu o papel a ele, que ficou em dúvida porque jamais tinha lido as histórias em quadrinhos. Então, ele conversou com um amigo fissurado em HQ’s e perguntou se deveria embarcar no projeto ou não. O amigo em questão arregalou os olhos, obrigou ele a ler Watchmen e falou que ele não deveria perder nem mais um segundo e ligar ali mesmo para aceitar o papel. E assim o fez. Mais tarde, Matthew foi para casa, leu o quadrinho, leu o roteiro e entendeu o motivo do colega ter dito para ele não perder tempo e aceitar logo o emprego.
Fã
Para ser justo com Matthew Goode, ele não estava sozinho no grupo de atores que nunca haviam lido Watchmen. Na verdade, do elenco principal, o único que era declaradamente fã da Graphic Novel e já havia lido várias vezes a história era Jackie Earle Haley. Inclusive, ele chamou atenção de Snyder após fazer uma campanha pesada para interpretar o Rorschach. Ele não apenas foi escolhido, como também caiu nas graças do diretor e virou parte fundamental do filme. Curiosamente, com o passar dos anos, seu personagem se tornou uma das maiores polêmicas do longa, visto que alguns fãs consideram que o anti-herói teve uma adaptação que o glorificava em vez de problematizá-lo.
Estilo próprio
Por ser fã declarado da história que estava sendo adaptada, Jackie trabalhou com muito carinho na composição do Rorschach. Um dos pontos mais incríveis é que ele chamou atenção de Zack Snyder por ser faixa preta em Kendo, uma arte marcial moderna que se inspira no treinamento e na luta de espadas dos samurais do Japão feudal. No entanto, ele optou por não trazer seus golpes aprendidos para o Rorschach. Ele acreditava que o estilo disciplinado e a organização da luta não combinavam com o personagem. Por isso, ele trabalhou golpes mais desleixados e propensos ao erro, assim como o própria personalidade problemática do anti-herói.
Complicado
Dentre todos os papéis do filme, nenhum foi tão difícil de escalar um ator quanto o Comediante. Parte fundamental do longa, o personagem precisava ser essencialmente um velho carrancudo e desiludido, abraçando a grosseria e a violência como modo de vida. O problema é que todos os atores que fizeram o teste tinham um jeitão de bom moço e estavam excessivamente arrumados. A exceção foi Jeffrey Dean Morgan, que estava num mau-humor dos diabos no dia. Quando viu aquele marmanjo reclamão e com a aura de quem estava exausto, Snyder não teve dúvidas e escolheu ali mesmo o seu Comediante.
Promessa é dívida
Snyder amou o empenho e dedicação de Gerard Butler em 300 e prometeu a ele um papel em Watchmen. O problema é que ele não se encaixou nos testes e acabou não sendo escolhido. Para cumprir com a promessa, Zack o escalou para narrar os Contos do Cargueiro Negro, um conto dos quadrinhos que é mostrado paralelamente à trama principal sobre um marinheiro que sobrevive a um ataque de piratas e começa a enfrentar a própria mente para não perder a sanidade. O problema é que essa parte, feita em animação, acabou não entrando no corte final do filme, já que tinha aproximadamente meia hora de duração e o estúdio estava maluco com um longa tão extenso quanto o que Zack Snyder estava fazendo. Com isso, os Contos do Cargueiro Negro foram cortados da versão final e lançados posteriormente como um curta.
Nada de Batman
Um dos momentos icônicos do filme são os espetaculares créditos de abertura. Ao som de The Times They Are A-Changin’, de Bob Dylan, Zack Snyder conta brevemente como a história norte-americana se desenrolou naquele universo com a presença dos super-heróis. Em uma das cenas, o Coruja original é visto socando um assaltante na saída de um teatro. É possível ver um casal bem arrumado, com direito a um pomposo colar de pérolas no pescoço da moça. Além disso, é possível ver nas paredes o nome de Gotham e a capa da primeira edição dos quadrinhos do Batman. Por anos, os fãs especularam que o casal era Thomas e Martha Wayne, os pais de Bruce. Então, neste universo, não haveria um Batman porque o Coruja impediu o evento traumático que transformaria o menino no Cruzado Encapuzado. O que passou mais de uma década como teoria acabou sendo confirmada como verdade pelo próprio diretor. Durante as entrevistas de promoção de A Liga da Justiça de Zack Snyder (2021), Zack confirmou as suspeitas dos fãs.
Mundo alternativo
O filme é ambientado em uma realidade alternativa em que os Estados Unidos tiveram o apoio dos super-heróis, em especial do Dr. Manhattan, e ganharam a Guerra do Vietnã. Por isso, há um detalhe que costuma passar quase despercebido no longa, que é a bandeira dos EUA. Nesse universo, a bandeira tem 51 estrelas, porque o Vietnã foi anexado como território norte-americano.